Crescer sendo desacreditado, evitado, rejeitado por causa da cor da sua pele, cabelo ou outros determinados traços é uma ferida que não se vê, mas que é sentida todos os dias. Para muitas pessoas pretas ou pardas, o racismo não é apenas um evento isolado, é uma vivência contínua, silenciosa, muitas vezes invisível aos olhos de quem nunca precisou justificar sua existência.
Desde cedo, adolescentes negros percebem olhares de desconfiança ao entrarem em uma loja. São mais cobrados por disciplina. Muitas vezes têm seus talentos ignorados em instituições. Isso não é “mimimi”, como dizem. Isso é exclusão. Isso é racismo.
Nos adultos, o cansaço emocional se acumula. São as frases que parecem de humor, as promoções que nunca chegam, o medo constante de ser confundido, acusado, desumanizado. É o peso de sempre ter que provar o próprio valor — como se simplesmente ser quem se é não fosse o bastante. Os sintomas aparecem de várias formas: ansiedade, depressão, baixa autoestima, dificuldade de se reconhecer como alguém merecedor de afeto, sensação de não pertencimento, dificuldade em ter autoconfiança, de enxergar beleza interna e externa em si mesmo. Muitos internalizam o preconceito, acreditando que precisam se adequar para “serem aceitos”. O racismo adoece. Alguns já tentaram alisar o cabelo, passar produtos estéticos para deixar a pele menos escura, pensaram na roupa que iriam vestir para não serem confundidos, evitaram interagir com pessoas de outras culturas ou tons de pele, perceberam olhares ou comentários que o fizeram desistir de algo, ouviram ofensas por parte até de autoridades, quanta luta você já pode ter vivenciado, independente de sua idade.
Na psicologia, é urgente reconhecer que o sofrimento psíquico de pessoas negras, não pode ser tratado apenas como sintoma físico. É preciso escutar o que vem antes do sintoma: a história de vida, as violências sofridas, os silenciamentos impostos. Não basta acolher sem reconhecer a cor da pele de quem chega até o consultório. O cuidado psicológico antirracista precisa validar a dor, reconstruir a autoestima, abrir espaço para a potência. Não se trata apenas de tratar o trauma, é resgatar uma identidade que foi apagada e deixada sem brilho. O racismo não é só uma questão individual: é estrutural, histórico e coletivo. Enquanto houver corpos adoecendo, temos o dever de escutar, acolher e transformar. A psicologia tem a tarefa de ser anti racista, considerar toda a cultura, o social, a falta de liberdade, de expressão, de direitos básicos que muitos grupos minoritários tiveram total negligência, violência e desrespeito. É uma dor ancestral. Você que se considera preto(a), pardo(a), atravessa camadas de um histórico de opressão, de desvalia. Não deixaram que fossem apresentados os poderes, talentos e frutos. No entanto, é uma caminhada que ainda é debatida e confrontada, mas que todos lutam contra o racismo, agindo a partir do arquétipo do heroi, que simboliza, destaque, coragem e superação dos desafios. Como super heróis ou heroínas negros podem representar inspiração, conscientização e igualdade. Alguns nomes, antigos ou atuais: Martin Luther King, Carolina Maria De Jesus, Rosa Parks, Nina Simone, Taís Araújo, Lázaro Ramos, Lewis Hamilton, Bob Marley, Oprah Winfrey, Pelé, Beyoncé, etc. Desejo luz e muitas conquistas, você merece se sentir rei/rainha com a coroa que é o seu cabelo.